ENTREVISTA

          Uma breve perspectiva psicológica da violência infantil

1)       Quais os tipos de violência são mais comuns contra a
criança?
       Vera Mota  Dentre os quatro tipos; a violência física, psicológica, sexual e a negligência, há pesquisas que apontam a violência física como predominante, outras pesquisas apontam a negligência, depende da fonte e do contexto sócio-econômico, entre outros. Na minha experiência clínica, eu diria que a violência psicológica é a prevalente na vida da criança, pois é comum ela acompanhar todas as outras. Há nisso uma questão cultural, no Brasil xingamentos, ofensas e humilhações passaram a ser considerados violência psicológica só há algumas décadas, sendo muito presente especialmente na violência doméstica.

2)       Como podemos definir exatamente o que é violência
física contra a criança?
       Vera Mota  Não há na literatura unanimidade nesta definição. Encontramos pesquisadores que dizem tratar de agressões que deixam marcas ou sequelas no corpo da criança. Eu trabalho com a ideia de que qualquer tipo de agressão física sobre uma criança é uma violência, desde o que chamam de uma simples palmada até um espancamento. Adoto o entendimento de Viviane Guerra e Amélia Azevedo, duas pesquisadoras do LACRI-USP) Laboratório da Criança da Universidade de São Paulo- SP.

       3)       Como perceber que uma criança pode estar sendo vítima de violência?
       Vera Mota  Eu diria que através da observação do comportamento da criança, ela dá sinais. Nós que, às vezes não temos olhos para ver. Uma mudança no comportamento da criança é a primeira coisa que deve nos chamar a atenção. O retraimento, a apatia, a agressividade, a menos valia, a tentativa de esconder partes do corpo que pode estar lesionada, dores constantes. São sinais que devemos estar muitos atentos. Não existe uma regra única, cada criança pode manifestar a vitimização de diferentes modos. O interessante é que o alerta é para a mudança no comportamento da criança, era de um jeito e passa a se comportar de outro jeito.

       4)   Como o educador deve agir caso suspeite de que seu (a) aluno(a) está sofrendo violência por parte da família?
        Vera Mota   Eu apuraria mais a observação sobre aquela criança, e aproximaria ainda mais da família, através da investigação e da escuta. Descartaria qualquer tom de ameaça, pois devemos lembrar que o assunto é delicado e se a abordagem junto à família for em forma de coação, a violência pode se intensificar como punição à criança por ter contado o que acontece em casa.. Devemos lembrar que o objetivo primeiro é proteger a criança, (e não a punição ao agressor), para que ela tenha confiança na professora e se sinta acolhida na sua dor e não exposta ainda mais à violência. Com isso, não estou desconsiderando que a denúncia aos órgãos competentes é uma das ações que a escola deve tomar. Os conselhos tutelares, as varas da infância e da juventude, devem ser competentes para atuarem nestes casos.

Entrevistada:
Vera Lúcia S.Lopes Mota
Psicóloga Clínica- Mestre em Psicologia/PUCMinas
Bacharel em Direito
Graduanda em Pedagogia